quarta-feira, 12 de outubro de 2011

a maravilha anil

Dia turvo, amigos!

Após dias caminhando em silêncio por porções de densa e escura nuvem, Celina, nossa salamandra anfitriã, começou hoje a explicar-nos o que há a nossa volta. Como já desconfiávamos ao descrever um caminho impossível de ser memorizado, estamos andando por um extenso labirinto formado pela rede luminosa de miosótis. Estes caminhos levam a imensas salas negras, chamadas Clarões, onde se disparam os relâmpagos.

Celina contou-nos que esta rede acaba de ser largamente ampliada por ocasião da tempestade final de Clareada. Inicialmente, haviam 4 Clarões, que eram usados em participações nas chuvas vizinhas, mas hoje há centenas deles! Isso porque os raios são nutridos pela energia dispensada por coisas que se desfizeram no processo de condensação da nuvem, o que tem acontecido de forma cada vez mais acelerada. As fadas sublimadas coletam essa energia e convertem-na em luz e som. Para evitar que ela se perca antes que possa alimentar um relâmpago, tudo na fábrica de raios deve ser o mais escuro e silencioso possível. Quando o raio finalmente está pronto e é disparado, emana essa energia para outras regiões do céu, onde novas nuvens estão se criando e poderão utilizá-la.

A salamandra levou-nos ao centro do labirinto, onde fica a origem da criação dessa luminosa maravilha! É de uma grande esfera, tecida com as mesmas flores e galhinhos em que pisamos, que partem todos os caminhos para os Clarões. Dentro dela trabalham duas moças idênticas, sentadas uma de costas para a outra em cadeiras invisíveis de alto espaldar. Chamam-se Serena e Sonora e tecem com agulha o labirinto. De quando em quando, chegam os galhinhos à boca e sopram dentro deles a essência do raio que mais tarde irão produzir. Serena insufla-os da calma que deve antecipar seu disparo, enquanto Sonora lhes envia a qualidade do som que devem emitir ao serem disparados. Só então levam-nos às agulhas.

Acabamos de sair de um Clarão onde trabalha Claus, um dos mais antigos relamparinos da nuvem. Quando entramos na sala, conduzidos pela rasteira vegetação, ele estava no centro dela, cuidando de um minúsculo fruto quase negro que pendia da ponta do galho mais fino. Claus explicou-nos que aquele fruto era um raio em estágio avançado. No início, preenchia todo o Clarão, mas, à medida em que a energia era injetada dentro dele, o raio ia diminuindo de tamanho, condensando seu poder. Aquele raio deveria estar pronto em pouco tempo, quando iria retomar suas dimensões originais, transformado em luz e som.

Deixamos o relamparino e nos encaminhamos para outra sala. Aqui não há ninguém, nada se vê, nada se ouve. Mas, ao contrário do medo e desorientação que senti na primeira vez em que nos vimos em completa escuridão, agora sinto-me em paz.

Ora, mas…! É tudo luz agora! Uma maravilhosa luz de centro branco e contorno anil recortou a sala e por todo o perímetro reverbera o acorde poderoso de um lá menor!

E mais isto? Para onde vamos? A nuvem tornou-se água sob nossos pés e começa a nos carregar… Qual será o nosso destino???

Um comentário:

  1. que beleza viajar com a salamandra pra estes salões de pura vibração crativa e amorosa!
    acho que entrei junto num dos clarões e fiquei na paz da criação!
    grata pelas águas que nos carregarão neste verão!
    maria do socoro

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